Foi o tempo em que olhávamos para o céu pela manhã e tentávamos fazer a previsão do tempo. Parecíamos especialistas e bastava olhar as nuvens “rabo de galo”, que indicavam vento, ou aquela formação de “céu pedrento, chuva ou vento”. Os animais também passavam dicas como as formigas agitadas, o comportamento das gaivotas ou as andorinhas voando baixo alertando para a chegada do vento Sul. O tempo se revelava sutilmente com sinais que variavam da brisa quente vindo Norte a um cheiro que despertava lembranças como páginas de um livro antigo. Era um diálogo íntimo com a natureza onde, de certa forma, escutávamos o clima antes que ele chegasse. Cada rastro no horizonte era uma espécie de aviso.
Confesso também que nem sempre era assertivo e muitas vezes éramos surpreendidos como com a chegada de uma “lestada”. Quem é do litoral catarinense, e nasceu antes da década de 90, sabe bem o que é isso. Eram três dias de muito vento, mar agitado acompanhados por chuva em alguns momentos. Tenho muitas recordações da minha infância e adolescência quando éramos pegos de surpresa por esse mau tempo e ficávamos presos na Ilha do Campeche. Ao contrário dos adultos queríamos em nossos pensamentos que isso acontecesse porque mesmo com frio, vento e chuva continuávamos a nos divertir. A lestada era algo natural, que fazia parte da nossa realidade e a única preocupação era se a comida era suficiente para aquele período de espera.
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Os anos se passaram e aquele conhecimento empírico sobre o tempo foi se perdendo. Em paralelo a ciência continuou se desenvolvendo com a previsão do tempo ficando cada vez mais assertiva com os meteorologistas. Chegaram os radares e os satélites, agora eles mostram todos os parâmetros do planeta. Com cada vez mais dados confiáveis deixamos, de certa forma, de nos conectar com a natureza. Os fenômenos começaram a ser explicados e as coisas dos nosso dia a dia ganharam novas denominações.
A “lestada” de antes, que surpreendida a população, deu lugar para o ciclone extratropical, que hoje é anunciado com dias de antecedência. O que era corriqueiro ganhou um ar de perigo, terror e para os leigos sobrenatural. Isso foi e é cada vez mais explorado para chamar a atenção da população. No passado apenas criticávamos o mau tempo, como aquele vento que vinha do mar trazendo chuva, e agora recebemos uma carga de informações, todas baseadas na ciência, mas que trazem consigo o medo para quem não sabe interpretar.
Os avanços técnicos apenas buscam melhorar a qualidade de vida, trazer comodidade e segurança. Isso não quer dizer que precisamos perder a essência e o que pode nos conectar com a natureza. O conhecimento herdado, que se desenvolveu com a intuição moldada pela repetição dos dias, sempre foi transmitido de pai para filho e não pode ser esquecido.
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