O sangue de homens de valor ainda escorria pela antiga Nossa Senhora do Desterro quando ocorreu o maior ultrage a memória do povo da Ilha de Santa Catarina. Foi no dia 1º de outubro de 1894 que a cidade perdeu o nome que carregava mistério, devoção e o peso da vida de homens e mulheres. Ele foi empurrado para fora, como se fosse incômodo, pois foi nesta data que o infame ditador Floriano Peixoto passou a ser homenageado e a capital catarinense começou a se chamar Florianópolis.
Apagar um nome é mais do que rebatizar uma cidade: é ferir a memória, é rasgar a pele da história para vestir uma máscara que soa até hoje como ofensa para quem respira verdadeiramente a Ilha. Através de uma lei, assinada pelo então governador Hercílio Luz, veio a tentativa de apaziguar a vingança. E assim a cicatriz que iniciou com a morte dos bravos na fortaleza de Anhatomirim ficou mais profunda e como uma espada atingiu a fé e a alma dos ilhéus.
> Siga nosso canal no WhatsApp e receba as notícias do TVBV Online em primeira mão
A troca de Desterro por Florianópolis foi impor esquecimento à força. Foi exaltar o massacre de 1893, quando a ilha foi banhada em sangue. Cerca de duzentos homens, políticos, militares e personalidades, foram executados e muitos dos corpos nunca foram entregues para as famílias. O novo nome é como um monumento erguido sobre cadáveres: uma exaltação travestida de homenagem, mas que nunca foi apagada no coração dos ilhéus.
Na década de 70 o infame nome foi abreviado pelos surfistas e nasceu Floripa e depois teve o encanto ressaltado pela “Ilha da Magia”. Há quem diga que os nomes não importam, mas eles são bússolas, raízes, almas daquilo que designam. Desterro falava de exílio, mas também de refúgio, de proteção, de acolhimento. Florianópolis fala de poder, de imposição e de um capítulo sombrio. E assim a ilha carrega uma contradição: no coração, continua sendo Desterro, mas nos mapas e papéis, Florianópolis. O ultraje da troca é muito mais que semântico. Ele é espiritual, é a eterna lembrança de que a memória pode ser violentada, mas nunca domada.
Na Ilha do Campeche o mar revela a história
As oficinas líticas são registros milenares do trabalho humano. São verdadeiros testemunhos de um tempo em que mãos ancestrais moldavam ferramentas e sonhos. Cada sulco, cada inscrição, guarda a…