23 de setembro de 2025
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Flávio Jr

O navio que afundou embaixo da Ponte Hercílio Luz

Navio Unidos afundando em frente ao cais de Florianópolis. Imagem: Autor desconhecido.

Há muitas décadas o cais ditava o ritmo de Florianópolis e era ali o ponto de partida e chegada para muitas pessoas. Naquela estrutura, localizada ao lado da Ponte Hercílio Luz na área continental da capital, que a economia era movimentada. Agora imaginem uma manhã no verão de 1962, um dia comum, com o cheiro de sal se misturando ao de café das casas próximas. A cidade pulsava em passos lentos e foi nesse cenário que ocorreu o único naufrágio no “Canal do Estreito”.

A primeira vez que escutei essa história foi através de meu pai, o ex-vereador da capital, Flávio Vieira. Ele era adolescente e morava com meus avós na rua 14 de julho, bairro Estreito, nas proximidades do cais quando o fato ocorreu. A ponte e o trapiche do porto eram uma extensão do quintal da casa daquele menino cujo o pai, meu avô Delamar Vieira, era proprietário de uma madeireira localizada em anexo ao porto. A ligação da família era ainda maior com meu bisavô, Genésio Filomeno Vieira, sendo o prático do Loid de Florianópolis, ou seja, era o responsável por trazer os navios até o cais.

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O Navio Unidos saiu de Laguna e tinha como destino final a cidade do Rio de Janeiro Na viagem para Florianópolis a embarcação apresentou problemas e os tripulantes estavam insatisfeitos. A embarcação estava carregada com sacos de farinha e latas de banha e na escala em Florianópolis uma grande quantidade de madeira foi embarcada. Meu pai, então com 14 anos de idade, estava no trapiche e viu tudo acontecer. O navio ainda estava amarrado quando começou a adernar. “Eles tentaram retirar um pouco de carga, mas não deu tempo. Como o trapiche era de madeira soltaram as amarras com medo que a estrutura fosse arrastada pela embarcação. Aos poucos o navio foi afundando”, relembrou.

Cais do Porto de Florianópolis. Imagem: Autor desconhecido.

Algumas pessoas chegaram a afirmar que o afundamento foi proposital por causa do seguro. Logo que a água salgada tomou conta da embarcação, parte da carga começou a boiar. Muitas pessoas se aproximaram com pequenos barcos e começaram recolheram os produtos que flutuavam. Não foi diferente com meu pai, que mesmo pequeno, nadava até os pranchões de madeira e os trazia para o continente. “Eu ganhei muito dinheiro vendendo a madeira que recolhi. Eu ainda cortava os sacos de farinha para pegar os sacos que usávamos como pano de chão”, contou.

Atualmente os restos do navio Unidos descansam no fundo do mar no “Canal do Estreito”. Poucos são os registros do naufrágio e a história passou de geração em geração. A maior prova de que tudo ocorreu está no fundo do mar, o casco corroído pelo sal, uma testemunha silenciosa de um tempo onde os navios moviam a economia de Florianópolis.

Naufrágio do navio Unidos. Imagem: Autor desconhecido.

           

             

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