3 de dezembro de 2025
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Flávio Jr

Não vendam nossas praias e a nossa história

Praia do Gravatá e a “Cabeça do Dragão”. Imagem: Flávio Jr.

Existem coisas que não cabem em recibos, como vento que desenha dunas, o silêncio que a maré guarda como segredo e a memória que se esconde nas pedras, nada disso conhece lucro. Contudo, quando a caneta da lei se curva ao peso das cifras, um arrepio percorre a areia e nossa identidade é ferida e colocada em risco. É isso que pode acontecer com a aprovação do projeto de lei, que ocorreu na Câmara de Vereadores da Capital, na noite da última terça-feira (02). A proposta foi de autoria Executivo e possibilita a cessão onerosa de direito à nomeação de eventos e equipamentos públicos municipais (naming rights) e até mesmo praias. Ela foi aprovada por 15 votos favoráveis e 4 contrários dos “representantes do povo”. Outros quatro parlamentares não votaram pois estavam ausentes da sessão.

A cidade precisa evoluir e a possibilidade de comercialização de eventos, como a nossa querida Fenaostra, o Carnaval ou o Réveillon, é positiva, mas a ideia de estender este processo para alguns espaços públicos como o Mercado Público e nossas resplendorosas praias é uma agressão a nossa história e ao coletivo. É como se cada grão de areia protestasse em voz miúda contra a ideia de que o nome de uma praia, que nasceu pelo sopro herdado de pescadores, navegantes e histórias, pode ser alterado por um slogan que não talvez não resista à próxima estação.

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Chamar a praia por um rótulo é esquecer que ela já tinha rosto. E esse rosto não nasceu em uma reunião de diretoria ou no plenário do Legislativo Municipal, mas no encontro entre território e gente. Cada nome arrancado ou modificado vai deixar para trás um vazio que a publicidade não vai conseguir preencher. O mar e a areia apenas reconhecem o que é vivo, eles não entendem o que é “branding”. Nossas praias ficaram conhecidas pela beleza, pelos passos de famílias nas praias ou pelos romances que iniciaram a beira da água salgada. Não podemos vender nossa história, pois quando ela é comercializada não é apenas o nome que se perde, é o pertencimento que se dilui.

Pôr do Sol visto do mar em frente a Praia do Morro das Pedras. Imagem: Flávio Jr.

           

             

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