Exportações em risco: Serra Catarinense entre as mais afetadas pela sobretaxa dos EUA (Foto: Freepik)
A sobretaxa de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros não é apenas um problema econômico; é também um reflexo da fragilidade política do Brasil no cenário internacional. E Santa Catarina, especialmente a Serra Catarinense, pode ser uma das regiões mais penalizadas.
Setores como carnes suína e avícola, motores elétricos, autopeças, confecções e o setor moveleiro, todos com forte presença na economia catarinense, perderão competitividade de forma imediata. Já há empresas do Planalto Norte suspendendo contratos e concedendo férias coletivas. São milhares de empregos ameaçados em municípios cuja estrutura produtiva depende diretamente das exportações para os EUA.
Impacto econômico direto
Segundo estimativas preliminares da FIESC, apenas em Santa Catarina as perdas podem superar US$ 500 milhões em exportações ao longo de 12 meses, considerando o histórico de vendas para os EUA. O impacto no PIB estadual pode chegar a 0,4% em 2025, com a possibilidade de eliminação de 10 a 15 mil postos de trabalho diretos, especialmente nos polos de móveis, carnes e têxteis. Na Serra Catarinense, onde a agroindústria e a produção de madeira representam parte significativa da economia, o efeito pode ser devastador. Em cidades menores, como São Bento do Sul e municípios vizinhos, o risco de retração econômica é real: empresas com 90% da produção voltada ao mercado norte-americano estão na iminência de fechar linhas de produção inteiras de móveis.
O reflexo político
No campo político, a medida expõe a ausência de uma estratégia sólida do Brasil para proteger seus interesses. A relação com os EUA se deteriorou, e a diplomacia brasileira, acuada, ainda busca alternativas para reverter – ou ao menos amenizar – a decisão. É inaceitável que quase 36% das exportações brasileiras para o mercado americano fiquem sob risco de inviabilização sem uma reação proporcional.
O governo federal precisa assumir o protagonismo: buscar canais de negociação direta com Washington, acionar instâncias internacionais de comércio e, principalmente, construir um plano emergencial para apoiar os setores mais afetados. A experiência mostra que as tarifas americanas têm forte viés político e são utilizadas como ferramenta de pressão em agendas bilaterais. O Brasil não pode se contentar em esperar um “gesto de boa vontade”.
O governo de Santa Catarina, por sua vez, também tem um papel fundamental. É hora de mobilizar a bancada federal, pressionar o Itamaraty e abrir frentes com outros mercados para reduzir a dependência dos EUA. Sem ação coordenada, a Serra Catarinense, que depende fortemente da exportação de carnes, móveis e produtos industriais, será uma das regiões mais prejudicadas do estado.
Este “tarifaço” dos EUA é um chamado à maturidade política e à integração federativa. Se a reação for tímida, a conta chegará rapidamente às fábricas e aos lares dos trabalhadores catarinenses. O desafio vai muito além de uma questão comercial: trata-se da capacidade do Brasil de se posicionar de forma firme no tabuleiro global e proteger sua indústria e sua gente.