Com produtividade recorde, estado busca reduzir dependência de importações e garantir competitividade na cadeia de carnes
A safra de milho de 2024/25 em Santa Catarina está se consolidando como uma das mais produtivas da história. Mesmo com uma redução superior a 13% na área plantada, o estado registrou aumento de mais de 23% na produção em relação à safra anterior. O destaque é a produtividade, que teve um salto expressivo e alcançou quase 10 mil quilos colhidos por hectare, a maior já registrada no estado.
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Segundo dados da Epagri/Cepa, a produção total de milho em SC chegou a 2,72 milhões de toneladas, somando a primeira (2,53 milhões) e a segunda safra (199 mil). Os bons resultados são fruto da intensificação do uso de tecnologias do manejo qualificado e da menor incidência da cigarrinha-do-milho durante o ciclo de cultura. O clima também foi determinante, principalmente a boa distribuição das chuvas e as temperaturas mais amenas à noite, que favorecem a fisiologia da planta.
Na lavoura, os produtores sentem os efeitos positivos da redução da cigarrinha-do milho. É o caso de Almir Souza, 59 anos, agricultor em Santo Amaro da Imperatriz, na Grande Florianópolis, que cultiva milho em uma área de cinco hectares e meio. “A produção tá boa. Com oito quilos de semente, rendeu mais de 22 mil espigas”, conta Almir, que também percebe diferença no tempo de colheita: “No verão, a gente colhe com 70, 75 dias. Agora, no inverno, tá demorando mais de 120 dias”.
Alta produtividade, mas autossuficiência ainda distante
Apesar do avanço, Santa Catarina ainda não é autossuficiente na produção de milho. O estado consome cerca de 7 milhões de toneladas por ano, especialmente para produção de ração animal, usada na suinocultura, avicultura e bovinocultura, setores que fazem do estado um dos maiores exportadores de carnes do país. Assim, mesmo com recorde de produtividade, o milho produzido localmente ainda cobre menos da metade da demanda, o restante é importado de outros estados, como Mato Grosso, ou de países vizinhos, como Argentina e Paraguai.
A cultura é predominante em sistemas de agricultura familiar, com forte presença nas regiões Oeste e Meio-Oeste catarinense. Nessas áreas, pequenos e médios produtores atuam muitas vezes em parceria com cooperativas agroindustriais, que garantem apoio técnico, financiamento e compra da produção. Ainda assim, fatores como alto custo de produção, concorrência com a soja por área plantada e limitação de terras disponíveis seguem como desafios.
Desde 2012, a produtividade do milho em Santa Catarina tem oscilado fortemente. Houve uma queda acentuada em 2020/21, com produtividade de apenas 5.487 kg/ha, mas a tendência foi de recuperação desde então. Com os 9.717 kg/ha alcançados em 2024/25, o estado superou o antigo recorde de 8.530 kg/ha da safra 2016/17.
Preço em alta estimula produtores e anima comerciantes
A valorização do milho tem impacto direto na ponta da cadeia, especialmente no comércio voltado ao consumidor final, como supermercados e feiras. Atuando há mais de 40 anos no setor, Pedro Paulo, 63 anos, trabalha com a venda de milho em espiga em um box no no Centro de Abastecimento do Estado de Santa Catarina (CEASA), o Embalados Bruda. Ele explica que o movimento aumentou significativamente nos últimos meses, principalmente por causa das festas juninas. “No verão dobra a produção, porque o milho gosta de calor e claridade. Mas agora no inverno também tá vendendo bem, por causa das festas”.
O bom momento também chegou ao mercado. Segundo o último boletim agropecuário, em março de 2025, a cotação média da saca de milho em SC subiu 2,74% em relação a fevereiro, atingindo R$ 71,15, o maior valor dos últimos dois anos. A valorização ocorreu em um cenário de estoques reduzidos e instabilidades no mercado internacional, como flutuações cambiais e atrasos logísticos em países exportadores.
Esse aumento nos preços tem reflexo direto na rentabilidade dos produtores, que veem na cultura do milho uma possibilidade de retorno mais atrativo. Por outro lado, o consumidor final também sente os efeitos no varejo, com a elevação do preço de derivados e da ração animal, o que consequentemente pode elevar os valores da carne e de produtos alimentícios em geral.
A alta também refletiu e aqueceu o comércio local. Pedro Paulo tem experiência no ramo de hortifrúti há 40 anos. Ele conta que cerca de 80% das vendas de milho que faz são para supermercados, mas o movimento cresce entre junho e julho com a demanda extra das festas juninas.
O comerciante compra espigas da região de São Paulo e vende por bandeja. A bandeja com cinco espigas custa R$ 5,00, enquanto que a com três espigas sai a R$ 3,50. “Aqui em Santa Catarina é por espiga, em São Paulo é por tonelada. Cada região tem seu jeito”, explica Pedro.