23 de junho de 2025
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‘Todo mundo pula’: piloto detalha momento do incêndio em balão em SC

Imagens: PCSC/Reprodução e Redes sociais/Reprodução
Profissional prestou depoimento à polícia em investigação da tragédia que deixou 8 mortos no último sábado (21)

O piloto do balão de ar quente envolvido no acidente que deixou oito mortos no último sábado (21) em Praia Grande, no Litoral Sul de Santa Catarina, prestou depoimento à Polícia Civil (PCSC). Elves de Bem Crescêncio trabalha para a empresa Sobrevoar e deu detalhes sobre como ocorreu o incêndio que resultou na tragédia e orientou aos outros 20 ocupantes a pularem da aeronave.

Segundo Elves, o fogo teve início próximo a um maçarico que estava no cesto do balão. “Com algo em torno de dois, três minutos de voo, eu sinto um cheiro de queimado dentro do cesto. Quando eu olho para baixo, a capa do tanque de gás tinha um início de incêndio. (…) Do lado do incêndio, tinha um maçarico de mão”, explicou ao delegado.

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Segundo o piloto, tratava-se de um maçarico que os pilotos carregam junto caso precisem para acender a chama do tanque durante o voo. Elves afirmou que não havia usado a ferramenta naquele dia. “Eu carrego, tu tem que carregar um maçarico contigo, uma chama contigo, mas hoje eu não tinha usado ele”.

Ao perceber o princípio de incêndio, Elves afirma que jogou o maçarico para fora do cesto e começou a tentar apagar o fogo com o pé, quando não conseguiu e decidiu pegar o extintor de incêndio. “Peguei o extintor de incêndio que tem no balão, tirei o lacre, a hora que apertei ele, não saiu nada de pó“, prossegue o relato.

Elves conta que o fogo começou a se alastrar muito rapidamente pelo balão, quando decidiu retirar todos os materiais inflamáveis do cesto. Emocionado, ele detalha como reagiu para tentar descer a aeronave, abrindo a válvula no topo para permitir que o ar quente saísse. “O balão começou a descer, eu disse ‘pessoal, estamos descendo, vamos descer’, mas já a chama alta. Em um minuto e meio, tomou conta do cockpit, onde eu não conseguia mais estar ali, não conseguia ficar, era muito quente”.

A hora que o balão veio pra pouso, eu falei ‘pessoal, a hora que ele pousar, todo mundo pula do balão’. (…) As chamas, elas estavam muito altas, elas atoraram todos os cabos, então não conseguia ter mais comando do balão.

A ordem foi dada ainda quando o balão estava a cerca de 200 metros de altura. Quando ele tocou o chão, segundo o depoimento, Elves e os 13 sobreviventes conseguiram sair do cesto. Foi neste momento, com o cockpit muito mais leve, que a aeronave voltou a subir. “Ele (o balão) tem um peso, a partir do momento que tu tira aquele peso ele fica mais leve e volta a flutuar, entendeu? Então o balão acabou decolando com essas pessoas que não conseguiram pular do cesto nesse pouso. E aí foi horrível”.

Já em solo, Elves conta que encontrou a primeira vítima fatal. “Essa primeira pessoa, fui correndo até ela, logo cheguei lá, ela já tava morta”. O piloto diz não saber quem era a vítima, mas afirma que foi uma das primeiras pessoas a pular do cesto, de uma altura “não muito alto”. O piloto então entrou em contato com a equipe da Sobrevoar para que chamasse o socorro e atendesse às vítimas.

Maçarico pode ter iniciado incêndio

Uma das principais dúvidas da investigação do caso é sobre o que teria causado a chama que deu início ao incêndio. No depoimento, Elves de Bem Crescêncio reforça que viu o fogo inicialmente ao lado do maçarico, mas que não utilizou o equipamento. “Eu pego o balão em pé, quem liga é a equipe, e o maçarico tava comigo, na minha mala de voo. (…) Talvez possa ser o maçarico, não sei te falar”.

Ele fica na mala de voo, e a malinha de voo pendurada, e talvez ele caiu. Provavelmente ele caiu da mala de voo, tenha caído, mas não consigo garantir.

O piloto explica que o acionamento do maçarico não é simples, por conta de travas de segurança. “Ele tem uma capinha protetora, tem que deslizar o dedo e depois tu tem que clicar no magiclick. Pra acionar são dois comandos, tipo o maçarico de cozinha, só que ele é maior”, relatou.

Sobre o extintor de incêndio, Elves explica que é um item obrigatório para passeios de balão de ar quente. Segundo ele, o extintor utilizado na ocasião era do tamanho dos utilizados em veículos. O piloto confessa que não conferiu a carga do extintor, mas a documentação da aeronave aponta que o dispositivo estava com a carga em dia.

Foto: CBMSC

Investigação do caso

O delegado-geral da Polícia Civil, Ulisses Gabriel, afirmou que a investigação já ouviu, além do piloto, cinco sobreviventes que estavam no balão. As demais vítimas e os responsáveis pela empresa também serão ouvidos em seguida.

“Além disso, vamos ouvir testemunhas oculares que estavam no local dos fatos. Estamos buscando também audiovisual, ou seja, filmagens e qualquer outro elemento que ajude na elucidação dos fatos. Fomos à empresa, já conseguimos obter todas as informações e documentos referentes à regularização dessa empresa, junto à ANAC, tanto do piloto quanto do balão”, explicou Ulisses.

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) pediu o compartilhamento das provas colhidas pela PCSC e determinou também uma série de providências no âmbito de um inquérito civil para apurar as causas e as circunstâncias dos fatos. O objetivo é também fiscalizar segurança da atividade e o cumprimento das normas legais na operação pela empresa Sobrevoar.

A Sobrevoar responderá nas esferas cíveis e do direito do consumidor. Ela deve informar e esclarecer, em até 10 dias úteis, as causas e circunstâncias do acidente. Além disso, deverá encaminhar à Promotoria de Justiça local a documentação que comprove o cumprimento dos requisitos legais e operacionais estabelecidos pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), tais como:

  • registro da empresa,
  • certificação do balão, licença de Piloto de Balão Livre (PBL),
  • cadastro de aerodesportista,
  • seguro da aeronave,
  • matrícula da aeronave no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB),
  • alvarás de funcionamento da empresa,
  • laudos de vistoria e demais documentos pertinentes ao exercício da atividade.

O que dizem a Sobrevoar e a Anac

Em uma nota divulgada no sábado, a Sobrevoar, empresa responsável pelo balão envolvido na tragédia, prestou solidariedade às famílias das vítimas, agradeceu às equipes de socorro e informou que suspendeu as operações por tempo indeterminado.

“Gostaríamos também de esclarecer que trabalhamos com seriedade e cumprimos todas as normas estabelecidas pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), destacando que não tínhamos registros de acidentes anteriores. Infelizmente, mesmo com todas as precauções necessárias e com o esforço de nosso Piloto, cujo mesmo possui ampla experiência e adotou todos os procedimentos indicados, tentando salvar todos os que estavam à bordo do balão, sofremos com a dor causada por essa tragédia”, explica a nota.

A Anac também prestou solidariedade às vítimas, e afirmou que “está adotando as providências necessárias para averiguação da situação da aeronave e da tripulação. A Anac acompanha os desdobramentos das investigações”.

Veja na reportagem de Gabriel Phillipi

           

             

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