A tática adotada pela oposição pode ganhar apoio popular se for vista como defesa de princípios / Foto: (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
A decisão dos parlamentares de oposição em travar as votações no Congresso Nacional é uma estratégia política legítima, mas que precisa ser avaliada com cuidado quanto aos seus objetivos e consequências. Obstruções regimentais, como retirada de quórum, apresentação de requerimentos protelatórios ou discursos intermináveis, são instrumentos previstos no jogo democrático. No entanto, o uso frequente ou desmedido dessa tática pode tanto gerar ganhos políticos quanto agravar o desgaste institucional do Legislativo.
Por um lado, o travamento das pautas pode funcionar como ferramenta de pressão contra o governo, especialmente quando há projetos urgentes em pauta. Ao impedir votações importantes, a oposição força o governo a negociar, o que pode resultar em concessões políticas, alterações em propostas ou até a reabertura de diálogos. É uma forma de equilibrar forças dentro de um Congresso muitas vezes dominado por uma base governista consolidada.
Recentemente, a obstrução ganhou contornos ainda mais simbólicos. Parlamentares da oposição passaram a tapar a boca com esparadrapos durante as sessões, em protesto contra o que consideram perseguições políticas e limitações à liberdade de expressão, especialmente em casos envolvendo figuras da direita investigadas pelo Supremo Tribunal Federal. A cena, embora teatral, busca chamar a atenção da opinião pública e reforçar a narrativa de cerceamento do debate democrático.
Por outro lado, essa mesma manobra pode se voltar contra os próprios opositores. Quando a obstrução se estende por tempo demais ou é mal compreendida pela população, corre-se o risco de ser vista como mera birra política, prejudicando a imagem dos parlamentares. Além disso, contribui para o aumento da percepção de paralisia institucional, algo que, em tempos de descrédito com a classe política, pode ser fatal para qualquer grupo.
Em suma, travar votações é uma atitude que pode, sim, dar resultado, desde que usada com inteligência política, comunicação eficiente e, principalmente, responsabilidade com o país. Do contrário, o que poderia ser uma ferramenta de resistência se transforma em combustível para a crise democrática.