27 de julho de 2024
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Policial

Dois casais atuaram no tráfico do menino Nicolas, encontrado em São Paulo

Mãe da criança foi aliciada desde a gravidez para que entregasse seu filho, afirma delegada

Marcelo e Roberta foram indicados como o casal para quem o menino Nicolas Areias, de 2 anos, teria sido entregue após desaparecer no dia 30 de abril. Mas os dois, na realidade, não têm relação matrimonial. A criança foi encontrada na última segunda-feira (8), com o suposto casal, em São Paulo, porém, de acordo com a delegada Sandra Mara, responsável pelo caso, dois casais estão envolvidas no aliciamento da mãe para que Nicolas fosse entregue: Marcelo e sua esposa, e Roberta e seu marido.

A principal suspeita da polícia até o momento é de que Roberta e seu marido se tornassem “os novos pais de Nicolas” e que Marcelo e sua esposa participaram do convencimento, da logística do aliciamento e da entrega da criança. Segundo a delegada, existe, por exemplo, um comprovante de depósito da esposa de Marcelo na conta da mãe de Nicolas para o pagamento de um Uber.

Presos inicialmente em flagrante por tráfico de pessoas, Marcelo e Roberta levavam Nicolas para a Justiça quando tiveram o carro cercado pela Polícia Militar de São Paulo. Ulisses Gabriel, delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, relata que um dos investigados, após a repercussão nacional do caso, entrou em contato com o fórum do bairro Tatuapé e acordou a devolução do menino à Justiça, em uma tentativa de reduzir a pena criminal.

 

Para a delegada Sandra Mara, os cônjuges de Marcelo e de Roberta apenas não foram presos porque não estavam no carro no momento da abordagem. Os dois estão atualmente na condição de investigados Polícia Civil de São Paulo. Na última terça-feira (9), a prisão de Marcelo e Roberta foi convertida de flagrante à preventiva, com o objetivo de evitar que os acusados cometam novos crimes, prejudiquem a investigação ou fujam.

Tutela de Nicolas

Atualmente, a criança se encontra sob responsabilidade do Conselho Tutelar de São Paulo e seu retorno a Santa Catarina depende de autorização judicial para se deslocar entre estados, trâmite ainda sem previsão. Uma vez autorizado o deslocamento, uma equipe composta por um delegado, um psicólogo e dois policiais militares irá de Santa Catarina a São Paulo para retornar com a criança e entrega-la à sua avó materna. Neste momento, a mãe de Nicolas não tem a guarda do filho.

Saúde da mãe

Em entrevista coletiva concedida por representantes da Segurança Pública de Santa Catarina na tarde da última terça-feira (9), a delegada Sandra Mara, relatou que a mãe tem uma fragilidade emocional e psicológica e por isso teria sido um alvo mais fácil para o aliciamento.

“Eu tenho essa convicção: esses grupos se aproximam das pessoas mais vulneráveis, mais frágeis, mais desesperadas. Isso foi um processo de dois anos. Teve momentos que ela [a mãe] estava mais forte e teve momentos que ela estava mais fraca. Neste momento ela estava mais fraca e foi quando ela cedeu e entregou a criança”, disse a delegada.

Irmão da mãe de Nicolas, Juliano Gaspar acredita que o confinamento na pandemia pode ter abalado fortemente a saúde mental da irmã. “Ela passou toda a pandemia no mesmo quarto de uma quitinete com a minha mãe, ela passou a gravidez e teve depressão pós-parto lá. Acho que isso tudo, juntamente com a falta de trabalho no momento e com outras situações na família, acabaram levando ela a tomar essa atitude impensada. Agora, conversando com ela, a gente vê que não era sua intenção”, afirma.

Juliano acrescenta que após recuperação hospitalar, a mãe de Nicolas tem tido acompanhamento especializado e que a família não sabia de qualquer envolvimento seu com os aliciadores de São Paulo. “Ela está fazendo terapia, indo ao psicólogo e ao psiquiatra, porque foi um “baque” muito grande. Ela é minha irmã caçula, foi em mim que ela confiou para começar a dar as informações. Agora que a gente sabe de tudo o que está acontecendo, ninguém vai abandoná-la e tenho certeza de que ela vai se recuperar”, torce Juliano.

Foto: Reprodução